Estou arrasada! Ninguém pode imaginar o que eu sentia em relação àquele laboratório! Imagino como as paredes devem parecer inquisitivas agora, com aquele monte de vida nelas que eles não vão conseguir entender. Imagino que olhem por todos os cantos e se perguntem: “O que é que se fazia aqui dentro? Mas porquê que entrava tanta gente aqui? Por que ficavam tanto tempo?” Porque a vida de um virologista não é inteligível pra mais ninguém...Ah! Mas ainda assim eu devia ter tentado me explicar! Dizer: há 5 anos que eu estou aqui dentro e nunca ninguém quis saber disso! De nada! E nunca nada diferente de um trabalho gratificante e duro teve lugar lá dentro. Claro que muitas vezes as coisas tornaram-se demasiado difíceis e eu pensei em largar tudo. Mas sempre que eu pensava nisso me vinham vozes de todos os lugares: “Você não pode fazer isso!”. Dias insuportavelmente quentes, as paredes pelando! Noites escuras e quietas, as janelas me espreitando...Quando tudo for devolvido aos seus respectivos proprietários, ainda assim eu quereria as paredes! Elas têm toda uma vida nelas...E sabe o que mais? Tem bem escrito nas paredes referências aos ensinamentos errados que aquele ser pouco informado passava aos pobres alunos... “A pesquisa de anticorpos avançou muito com novas técnicas como o PCR!” Primeiro, que é “A” PCR, e não “o” PCR...depois, que ele é o único ser no mundo que encontrou ácido nucléico em proteínas! Nossa! “O vírus da doença X (não posso falar o nome da doença senão vcs vão descobrir de quem eu falo) tem predileção por células.” Mas que revelação fantástica! Eu imagino que se ele continuar assim, logo vai descobrir que, além desse vírus ter predileção por células, também é replicado dentro delas!
Ontem eu fiquei um tempão conversando com o Mazur. Eu sinto falta do tempo que a gente se reunia, ao menos uma vez por semana, para não falar de vírus. Ou pelo menos de qdo havia mais pesquisas a serem acompanhadas. De repente, tudo acabou. E eu ainda sinto falta! Afinal, opiniões diferentes, jeitos diferentes, isso só enriquece. Até, as palavras eram bem mais leves...afinal se aliviavam com maior freqüência...Agora, tudo mudou...parece que eu fiquei devendo alguma coisa para ele...algo que ele queria que eu aprendesse e eu não aprendi...e que ele ficou devendo alguma coisa pra mim...uma expectativa, uma surpresa, ao menos uma palavra de incentivo era o que eu queria hoje...
Também fiquei chateada porque o Léo não está aqui comigo...Eu tento me convencer de que eu não tenho razão, e alivia minha culpa achar que isso tudo é só comodismo...Mas eu não consigo evitar o exercício de imaginar tudo diferente! Ainda mais hoje, com este vazio pós-formatura em relação à expectativas...porque já estou cheia de planos, cheia de coisas pra fazer, mas sem expectativas! Com perspectivas mas sem expectativas...